Tivemos aqui uma experiência ótima com a chegada da caçula. Achei que talvez pudesse ajudar outras famílias ansiosas com a chegada do novo bebê juntando o que fizemos que parece ter ajudado a Lilla a lidar com toda a mudança.
Lilla tinha 3 anos e 8 meses quando descobrimos a gravidez, e 4 anos e 4 meses quando a Malu nasceu. Ela desejou muito a irmã e vinha nos pedindo um bebê desde os dois anos de idade. Hoje em dia, 9 meses depois do nascimento, o veredito é: "ter irmã é tão bom que eu quero "mil" irmãos e "mil" irmãs!"
Acho que a boa receptividade dela teve uma ótima base nesse desejo. Ainda assim eu receava muito que a chegada da irmã fosse dificil por toda a mudança de rotina que um bebê traz. Afinal, a irmã "real" seria diferente do sonho de irmã. Haveria nossos momentos dificeis, com certeza. E ela, tão acostumada a ter minha presença plena, teria que se acostumar a uma nova dinâmica.
Uma vez li num blog materno (infelizmente não lembro qual) que crianças criadas com empatia e apego conseguem ser muito empáticas de volta, e que a gente não devia subestimar a capacidade delas de doar. A mãe desse blog tinha vários filhos e dizia que eles sempre lidaram bem com a chegada de um novo bebê, e conseguiram entender e abrir espaço, na medida do possível, para aquele pequeno serzinho que precisava de muita atenção, como eles próprios também um dia já receberam.
Eu mastiguei essa colocação por anos... Era muito diferente de tudo que eu ouvi antes, sobre separar tempo exclusivo para o mais velho que estava "perdendo espaço"... Na minha cabeça fez muito sentido. O bebê não viria para disputar território, o bebê viria para ser mais uma parte de nós. Foi pra mim a chave pra mudar meu ponto de vista "comum" e abrir novas possibilidades.
Sim, claro, ciúmes são normais e cada criança tem sua própria personalidade... E aqui também temos nossos momentos. Mas, de uma forma geral, a Lilla não apresentou ciúmes. E isso é normal também!
O que eu acho que pode ter ajudado?
-Sinceridade, aos baldes. Vocês conhecem a disciplina positiva? Uma das coisas que mais faço é explicar pra Lilla o que ela está sentindo, e isso é uma das coisas que aprendi com leituras sobre disciplina positiva. Nomeio os sentimentos. (Tipo: "Você está frustada por não poder brincar mais e precisar ir embora. Você está triste com a mamãe por eu dizer que temos que ir". Isso ajuda ela a sair das crises de choro, dos momentos dificeis. Não entender o que se sente é dificil. Nomeamos, e assim podemos validar e trabalhar o sentimento)
E entender os proprios sentimentos aplaca o medo! E pavimenta o caminho para, mais adiante, entender os sentimentos dos outros.
Nomear e validar faz ela se sentir compreendida e ouvida. Contrói a capacidade de compreender os outros. E isso gera empatia.
E a empatia.... ah! Ela é mágica!
Quando a Malu nasceu, a Lilla me surpreendeu com a sua capacidade de ser empática. De entender que a bebê precisava de mim, sem se sentir ela própria deixada de lado.
-Previsão do futuro, o oráculo da mamãe!
A Lilla, como qualquer criança, não reage bem a mudanças repentinas. Eu sempre tento prepará-la antes do que vai acontecer, principalmente se é algo que ela precisa cooperar. Sejam coisas pequenas ou coisas grandes, eu vou sempre avisando antes. Se vamos ao parque, e ficaremos menos tempo do que esperado, eu digo: "filha, vamos à pracinha, mas hoje ficaremos só 20min. É menos tempo, mas vai ser bom brincar!". Eu volto a lembrá-la disso, quando faltam 10min, 5min, 2min... e por fim, quando vamos, ela dificilmente reage mal ao anuncio de que acabou o tempo de praça. Com ela, adiantar os passos funciona bem. Geralmente pela manhã dou um "resumo do dia" (algo como: hoje é segunda, vamos por o uniforme? Papai vai te levar a escola, e vovô vai te buscar. Hoje você tem natação, então quando você voltar, após o almoço, vai brincar um pouco e depois se arrumar pra nadar). Eu sempre vou ao longo do dia deixando ela a par do que vai acontecer. Isso a faz se sentir segura...
Segui o mesmo conceito com a gravidez, e conversei muito com ela sobre como seria a nossa rotina após a bebê.
Fui muito sincera sobre como seria a irmã ao nascer (mamaria o tempo todo, precisaria de silêncio pra dormir, demoraria pra aprender as coisas, inclusive aprender a brincar. Estaria em nosso colo o tempo todo, faria muito cocô e xixi, choraria alto, inclusive a noite... etc). Eu me lembrava que uma das minhas maiores frustrações quando eu era criança e meu irmãozinho nasceu foi que ele não sabia brincar e demorou muito para aprender a fazer alguma coisa. Então tentei explicar para a Lilla quais eram a expectativas de um bebê recém nascido para que ela soubesse o que esperar.
Ela ja sabia que, se a irmã fosse como ela, dormiria as sonecas no colo da mamãe. Mamãe teria menos tempo pra brincar, mas conforme a irmã fosse crescendo, nós brincariamos todas juntas.
-O pré-natal familiar.
Incluimos a Lilla em todo preparo pré natal. Ela participou de todas consultas, todos os exames (o bônus foi que, como a irmã nasceu em casa, a Lilla pôde participar do nascimento também!).
-Sempre, aqui e ali, eu ia contando pra ela como foi quando ela estava na minha barriga. Como eu me sentia, como ela me chutava e remexia lá dentro era um dos assuntos prediletos!
-Ao longo da gravidez recontamos a história dela várias vezes. Ela tem um foto livro que chamamos de "história da Lilla", com fotos da familia, do casamento, da gravidez e nascimento dela. Deixei esse livro à mão, e ela recorreu a ele muitas vezes.
-A irmã vem somar, e não dividir.
Eu sabia que passaria muito tempo sozinha com as duas. E interiorizei muito o que aquela mãe blogueira disse. Acreditei na capacidade de empatia da Lilla. Acreditei que ela teria paciência para receber a irmãzinha na vida dela também. Eu sempre dizia que a bebê era nossa. Parte de nós, da nossa familia. E nós faríamos tudo juntas. Eu não separei tempo especial para a Lilla quando a irmã nasceu. Ao invés disso, a inclui nos cuidados. E brinco com ela, com a irmã junto. Pra nós funcionou bem assim. A Lilla recebeu a Malu em sua rotina com muito amor. Na verdade, a Lilla me surpreendeu! Ela nunca pareceu sentir que a irmã "tomou o tempo dela", como as pessoas diziam que ela sentiria. E eu tentei nunca dar essa ideia.
Lemos vários livrinhos sobre bebês durante a gravidez. Escolhi a dedo, eu queria livros positivos, que não falassem de ciúmes (que ela não tinha demonstrado, e eu não queria "apresentar") nem de sentimentos ruins que não tivessem partido dela. (e não foi uma tarefa fácil, praticamente todos os livros que eu via nas livrarias tinham alguma rejeição do filho mais velho ou ciúmes pra ser contornado. Lemos livros sobre a chegada de um bebê na familia e outros focados no bebê, como ele é e o que ele faz (e outra dificuldade foi encontrar livros que mostrassem a mãe amamentando, não encontrei nenhum!)
Nossos preferidos foram:
Bebê e Eu
Babies
Little Stories
-A Teoria virou prática
Eu confesso que receei muito que, apesar de todo empenho, fosse difícil a transição. Antes, a Lilla tinha minha atenção praticamente integral quando estava em casa (ela vai pra escola meio período). Fazíamos tudo juntas só nós duas e ela era muito avessa a brincar sozinha...
Eu sempre respeitei seu tempo e tinha confiança de ela conquistaria sua autonomia quando estivesse pronta. Só não sabia quando seria esse tempo, quando ela estaria pronta. Eu sempre tentei ser sensível pra dar a Lilla espaço, mas estar ali quando ela me solicitasse. E até então eu era quase sempre solicitada. Tive medo de que essa maturidade dela para se sentir plena sozinha não aterrissasse por aqui antes da chegada da irmã. E quem diria que justamente a irmã seria o estopim da autonomia da Lilla?
Como eu disse, nós conversavamos muito sobre como seria ter uma bebê em casa. E uma das coisas que eu dizia era que a irmã precisaria aprender o amor. Que ela se apaixonaria por nós, enquanto nós nos apaixonariamos por ela. E que deveriamos ser gentis com ela pra ensinar ela a ser gentil conosco também.
E fui pedindo a Deus pra dar tudo certo...
Eu acreditei na capacidade da Lilla de amar esse serzinho novo e barulhento, ainda assim eu fui surpreendida com a tamanha facilidade dela em lidar com todas as mudanças. Achei que, talvez, o processo fosse ser mais turbulendo até tudo se encaixar. Mas nem foi. A melhor parte de ver um filho crescer é poder admirar uma pessoa incrivel desabrochar, enquanto a criança trabalha em contruir-se. Ela cresceu, e cresceu muito! Tanto por dentro como por fora: deu um estirão, perdendo muitas roupas e sapatos! Achei muito interessante como um lado acompanhou o outro.
Esse crescimento deu frutos em muitas áreas
Alguns pequenos detalhes foram os que mais me chamaram atenção, Um destes foi o auto-controle dela pra respeitar o sono da irmã. Quem convive com a Lilla sabe o quão agitada ela é, ligada no 220W, barulhenta e espoleta mesmo. Quem diria que ela seria capaz de cochichar durante duas horas enquanto a irmã dorme? É claro que eu preciso lembrá-la aqui e ali, mas ela se esforça bastante para respeitar as sonecas!
Sabe aquela autonomia pra se sentir plena sozinha que ela ainda não tinha? Bem, nem eu mesma previ, nas minhas mais otimistas aspirações, que ela aceitaria com tanta desenvoltura essa situação de não me ter tão presente quanto tinha. A autonomia foi um presente que a Lilla ganhou da irmã.
Lilla assumiu pra si o papel de irmã mais velha com maestria, é lindo de ver. Se sente resposável, se sente respeitada. Passou a ter prazer em completar com independência varias atividades nas quais antes precisava de ajuda. Passou a se concentrar em tarefas por incentivo próprio por longos períodos. Sobe pro quarto, vai fazer arte, desenha, monta coisas com papelão... E ela detestava brincar sozinha, quem diria!! Está toda satisfeita com as novas capacidades adquiridas.
E já que a caçula só dorme no colo, o que fazemos juntas eu e Lilla fazemos quando a Malu está acordada mesmo, seja no colo, no sling, ou no chão conosco... Eu sigo dizendo que somos família, que a bebê é nossa, nós somos dela, somos todos um parte do outro pra sempre.
Nos momentos raros de crise, mantenho a abordagem de sempre, idéias da criação com apego e disciplina positiva abordadas com um olhar Montessori. (mas por aqui, acima de tudo, tenho ficado encantada com como posso, como Cristã, espelhar a minha relação com minhas filhas na minha relação de filha com Deus Pai, porém aí já é assunto pra outra conversa!)
Seguimos do mesmo jeitinho: Nomeio os sentimentos, explico o que ela está sentindo, mostro empatia e ofereço espaço pra ela se acalmar (taí a única coisa que ela sempre preferiu fazer de forma solitária: se acalmar. Não gosta que eu sente junto quando ela está brava e precisa de um tempo pra voltar a aceitar conversar).
Nos dias em que eu estou muito cansada e sem muita paciência, seja por uma noite mal dormida, ou por uma bagunça grande que a Lilla fez no quarto e não quis arrumar, eu sou sincera. Quando vejo que perdi a paciência e estou reclamando e me alterando, eu explico e peço desculpas por ter esbravejado. Falo a verdade, que eu tenho mesmo baixa tolerância à bagunça e que ver tudo zoneado me deixa nervosa. Ou que estou com sono por ter dormido muito mal. E por isso preciso que ela me ajude tentando guardar seus próprios brinquedos ou tendo um dia mais calmo.
É bom ela ver que a mamãe também lida com sentimentos dificeis as vezes e precisa de ajuda para trabalhá-los, tal qual ela precisa também. Somos familia. Um ajuda o outro!
Cada criança é um universo único em si, né?
Por mais que os conheçamos bem, nem sempre podemos prever com clareza.
Aqui aconteceu assim, tudo fluiu naturalmente. Não teve ciúmes, e isso é normal também. Teve uma menininha que me surpreendeu e amadureceu muito com a chegada da irmã. Em parte por nossos esforços, mas em parte maior ainda pela pessoa que ela é e está trabalhando pra ser. "Construindo o Homem", como a Maria Montessori descreveu ser o mais importante trabalho da criança. Acho que a Lilla está trabalhando bem!
O post ficou gigante! Mas espero que tenha ajudado.
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It is a BIG POST, and I'm slowly working on the translation. Please stay tunned!